quarta-feira, novembro 28, 2007

Falta-me tudo e do resto tenho a mais. Queria um sentido porque me sobram os significados. Queria algo maior porque tudo é já tão grande. Falto eu ser quem devia. Faltas tu mostrares quem não és. Quero uma perspectiva porque três dimensões é demasiado para mim.

terça-feira, novembro 13, 2007

Pessoa

Contigo aprendi que cada palavra tem mais que o seu justo peso, tem milhões de justos pesos e justas medidas. Aprendi que consegues levar-me onde quiseres, por muito que eu não queira ler assim. Aprendi que que uma letra é o mesmo que um número, e uma alma, um destino. Tu morreste criança. E por isso aprendi que nunca chegamos lá. Aprendi que o que importa não é passar, é ser a ponte. Aprendi que o tédio é pó, e nós somos pilares dessa toda apatia. Não me ensinaste que há coisas maiores. Mas contigo aprendi que essas coisas maiores estão aqui tão perto que por vezes nos confundimos com elas. Aprendi que não vale a pena a vontade. Porque a Força é maior. Aprendi que mesmo assim somos quem queremos, e temos todo o dever de ser. Aprendi que não sou nada. Mas aprendi que posso ser futuro. Não sei o que viste, não sei quem te mostrou o que é Longe e já não nos pertence. Mas tu sabes. Apesar de nunca teres chegado lá. Morreste criança, para me ensinar isso. Num mesmo sopro, um mesmo fado. Num mesmo futuro, um mesmo passado.
Fibonacci

sexta-feira, novembro 09, 2007

Proposta de tréguas

Ivanhoe foi diferente.

A Ivanhoe faltou-lhe uma capacidade fulcral, que era ler o futuro. Ele não lia, pensava que o fazia acontecer.
Ivanhoe nunca me inspirou, mas aquecia-me.
Ivanhoe nunca parou. Parar é para os fracos. Parar é para quem tem alguém que os espere, na inércia, na ausência de forças, na força maior que não existir.
E agora, não sei se por medo do escuro, se pela claridade exagerada do sol, corre, corre e fala muito alto, para nunca passar despercebido e para nunca deixar perceber o atropelo que é a sua imaginação.
Fala comigo.
Fala comigo, Ivanhoe. Falaste tão alto, no dia em que me disseste que eras diferente, que quase me convenceste.
Fala comigo como se não precisasses de mostrar nada que não és, como se nada do que não sentisses fosse importante.
Fala comigo como se eu fosse uma pedra, e não o prémio do último torneio.
Fala comigo como se eu estivesse longe e nunca chegasse.
Fala comigo como se eu fosse a sombra do teu corpo. (Fala comigo porque chega sempre o dia em que o sol obriga o corpo a desejar a sombra, tal como se fosse a primeira hora.)
E não fales de mim. Que de mim só a memória se esvai, como sangue. E hoje tudo se encontra onde devia. E não fales de ti. Tu nunca te importaste com isso.
Sê alto, Ivanhoe. Sê grande. Sê inteiro. Não aceites menos que isso.
E fala comigo.
Fala como se eu não te ouvisse. Porque não te ouço. Eu não passo daquela sombra que um dia te mostrou que, afinal, és igual aos outros.
Fibonacci

domingo, novembro 04, 2007

Mina

É o ar a subir até ao peito, que quer rebentar de tanto ar, tanta coisa, tanto daquilo que se sente (a cada acorde, a cada batida, a cada suspensão, a cada cadência). E, antes de tudo me voar pelos cabelos e me levantar, abandonando-me ao que sempre me quis prender, vou suster o ar mais um pouco. Porque enquanto é meu, está mais forte. A sua energia passa e passa e arrepia a minha nuca, as minhas pálpebras e as minhas papilas gustativas. Ninguém sabe. A artéria aorta pulsa ao ritmo do mais baixo do palco. Os ombros acompanham a cabeça, que já nem nos pés manda.
Sou tudo o que ele canta. E nunca mais vou acabar.
O bocado meu que lá perdi, lá ficou.
Porque ali ele é mais do que é comigo.
Fibonacci

quinta-feira, novembro 01, 2007

O preço que pagamos foi alto demais.

Trocamos o céu pelo chão. Perdemos o que tínhamos para ganhar aquilo a que nunca tivemos direito. Não tínhamos muito é verdade. Mas eu agarrei-me a tudo como uma tábua de salvação. Como se o mar estivesse agitado. Como se as ondas pequenas se sobrepusessem às grandes e redondas. Mas não.
O céu limpo e eu não via a lua.
Não me serviste de nada. De nada me serviu agarrar-me a ti. Se o barco nunca encalhou, se o céu nunca choveu.
Agora rio ao pensar no que perdi. E no que ganhei com medo de tudo perder. Nada. Nada mais que nada. Só me ficou o que era meu de início. Eu mesma. Se é que mesmo isso continua a ser meu.
Agora só sorrio ao pensar no erro pior que cometi.
Porque foi um erro.
Foi pior.
Foi demasiado pensado.
Fibonacci