Páro no vinte e oito em honra à Mafalda.
Quero voltar.
Aqui há muitas horas de sol por dia e o dia começa muito cedo.
Quero tanto voltar e ainda quase não saí.
Quero voltar ao frio que já nem é frio quando é gelo, e quase nevou, quase.
Aqui, quando é noite, continua a haver luz. Quero voltar ao escuro da salamandra acesa.
Quero mesmo voltar.
Aqui há muito para fazer mas os dias passam devagar. Lá não havia relógios e o tempo perdia-se no caminho. E cartas, e jogos, e nada, tanto nada, que se fazia quando me lembrava das horas.
Aqui há muita comida, mas era lá que as refeições se misturavam até se tornarem numa única, comprida, ao longo de todo o dia (se é que dia lhe podemos chamar), comprida e deliciosa, que ora se esticava, e era uma linha ténue, fina e leve como uma bolacha, ora engordava e saltava voluptuosa como as massas a dançar na água a ferver.
Quero cada vez mais voltar.
Aqui tenho tudo. Mas ter só o essencial fez-me tão mais feliz.
Obrigada pelos músculos doridos da barriga de tanto rir. Obrigada pelas lágrimas dos filmes mais emocionantes (e pelas piadas relacionadas com portas, que não nos esqueçamos que são nove). Obrigada pela companhia do pijama. Obrigada pela música (e pela dança, também, muito obrigada). Obrigada pelo cobertor eléctrico. Obrigada pelos percevejos do memorial e por aturarem os guinchos das seis menos um quarto da tarde. Obrigada pelas manilhas azuis do Uno. Obrigada pelas obras de carpintaria. Obrigada pelo cabron. Obrigada, obrigada, obrigada.Quero voltar.Porque lá adorei clichés.
Fibonacci
Quero tanto voltar e ainda quase não saí.
Quero voltar ao frio que já nem é frio quando é gelo, e quase nevou, quase.
Aqui, quando é noite, continua a haver luz. Quero voltar ao escuro da salamandra acesa.
Quero mesmo voltar.
Aqui há muito para fazer mas os dias passam devagar. Lá não havia relógios e o tempo perdia-se no caminho. E cartas, e jogos, e nada, tanto nada, que se fazia quando me lembrava das horas.
Aqui há muita comida, mas era lá que as refeições se misturavam até se tornarem numa única, comprida, ao longo de todo o dia (se é que dia lhe podemos chamar), comprida e deliciosa, que ora se esticava, e era uma linha ténue, fina e leve como uma bolacha, ora engordava e saltava voluptuosa como as massas a dançar na água a ferver.
Quero cada vez mais voltar.
Aqui tenho tudo. Mas ter só o essencial fez-me tão mais feliz.
Obrigada pelos músculos doridos da barriga de tanto rir. Obrigada pelas lágrimas dos filmes mais emocionantes (e pelas piadas relacionadas com portas, que não nos esqueçamos que são nove). Obrigada pela companhia do pijama. Obrigada pela música (e pela dança, também, muito obrigada). Obrigada pelo cobertor eléctrico. Obrigada pelos percevejos do memorial e por aturarem os guinchos das seis menos um quarto da tarde. Obrigada pelas manilhas azuis do Uno. Obrigada pelas obras de carpintaria. Obrigada pelo cabron. Obrigada, obrigada, obrigada.Quero voltar.Porque lá adorei clichés.