sexta-feira, dezembro 21, 2007

Baionne

Um, dois, três, quatro, cinco, seis, zumba, oito, nove, dez, zumba, doze, treze, zumba, quinze, dezasseis, zumba, dezoito, dezanove, vinte, zumba, zumba, vinte e três, vinte e quatro, vinte e cinco, vinte e seis, zumba, zumba, ...

Páro no vinte e oito em honra à Mafalda.


Quero voltar.
Aqui há muitas horas de sol por dia e o dia começa muito cedo.
Quero tanto voltar e ainda quase não saí.
Quero voltar ao frio que já nem é frio quando é gelo, e quase nevou, quase.
Aqui, quando é noite, continua a haver luz. Quero voltar ao escuro da salamandra acesa.
Quero mesmo voltar.
Aqui há muito para fazer mas os dias passam devagar. Lá não havia relógios e o tempo perdia-se no caminho. E cartas, e jogos, e nada, tanto nada, que se fazia quando me lembrava das horas.
Aqui há muita comida, mas era lá que as refeições se misturavam até se tornarem numa única, comprida, ao longo de todo o dia (se é que dia lhe podemos chamar), comprida e deliciosa, que ora se esticava, e era uma linha ténue, fina e leve como uma bolacha, ora engordava e saltava voluptuosa como as massas a dançar na água a ferver.
Quero cada vez mais voltar.
Aqui tenho tudo. Mas ter só o essencial fez-me tão mais feliz.
Obrigada pelos músculos doridos da barriga de tanto rir. Obrigada pelas lágrimas dos filmes mais emocionantes (e pelas piadas relacionadas com portas, que não nos esqueçamos que são nove). Obrigada pela companhia do pijama. Obrigada pela música (e pela dança, também, muito obrigada). Obrigada pelo cobertor eléctrico. Obrigada pelos percevejos do memorial e por aturarem os guinchos das seis menos um quarto da tarde. Obrigada pelas manilhas azuis do Uno. Obrigada pelas obras de carpintaria. Obrigada pelo cabron. Obrigada, obrigada, obrigada.
Quero voltar.
Porque lá adorei clichés.
Fibonacci

sábado, dezembro 15, 2007

Nevoeiro

Nevoeiro é quando o mar se levanta e voa à terra. O nevoeiro esconde mas profetiza. E se, à noite, algo insiste em brilhar forçado, é chuva miúda que cai mas não molha. E aí sentimo-nos intocáveis, imortais, um pedaço dos deuses feito sinal.
Não há unidade possível, nunca houve, nem no início. Por isso a procuramos, por isso corremos. Por isso olhamos para todo o lado e a inventamos com todas as nossas forças. Mas não há. É como correr atrás da sombra. Mas parar, parar é morrer.
No nevoeiro, somos uma partícula de toda aquela água disfuncional. Não somos um. Somos uma parte. Mas essa parte chega. E bem que quase que queremos ser dois.
Hoje, hoje não sou eu, nem sou Ricardo Reis, nem finjo ler o que me descontrói. Hoje sou parte do nevoeiro.
Não falo, não vejo, não ouço.
Chovo, mas não molho.
E sentir, só sinto mesmo o meu estômago.
Um pouco mais acima e era o coração.
Fibonacci