domingo, outubro 14, 2007

Teoria do esquecimento

E aqueles que por obras valerosas
Se vão da lei da Morte libertando
Luís de Camões, Os Lusíadas, canto I

Quando o Homem foi maior, ele quis criar o seu próprio destino. Moldá-lo de ferro, forjá-lo em barro. Pelas suas mãos, viver mais que a própria vida. Viver para que quem o ouça o reencarne, e assim transformar-se novamente em algo que nunca foi. Quando a palavra desejo despertava a criação, a morte física aparecia mais suportável que a morte humana, que é o esquecimento.
Quando o Homem se valia da temeridade e enfrentava a Morte, abria os braços, fechava os olhos, e entregava-se face a face ao infinito. E só por uma coisa lutava e só uma queria como prémio. A vida. Uma contra-lei.
O não-esquecimento.
Como o gaulês teme que o céu lhe caia sobre a cabeça, assim temia esse esquecer, o desamor eterno da memória inesquecível. O fim.
O Homem foi maior porque quis ser mais que um homem.
Mas hoje, hoje ninguém me convence que ele, cuja sede o tornou imortal, nunca se sentiu etéreo, ar, pleno e cheio e a abarrotar de uma vontade enorme de se esquecer. Hoje ninguém me convence que ele nunca usou o esquecimento como a sua arma maior. Que nunca, por momentos, precisou de se esquecer de tudo. Nem que nunca deixou a memória fugir por cada um dos seus poros, esvaindo-se, como sangue.
Fibonacci

1 comentário:

artur disse...

já platão falava: a alma vai e esquece. e reencar-na para no fim voltar a esquecer.
acho q ainda nao t esqueces-te disto.
e espero q não t esqueças d tudo nunca. conversas absurdas para gente q não é surda. eu deixo-te, sem t esquecer, com um beijo.