domingo, novembro 12, 2006

Maria

Todas as persongens desta história são fictícias.
Qualquer semelhança com o real é puro acaso.
Lúcia andava de um lado para o outro no quarto. Não sabia o porquê de tudo aquilo agora. Tanto tempo depois. Tanto tempo depois tinha de se lembrar. E tinha de viver tudo outra vez? Não era justo. Não queria viver outra vez aquele dia.
Nesse dia, como de costume, Maria falava e Lúcia ouvia. Desenganem-se, esta Lúcia é outra. Dois anos antes, estava practicamente irreconhecível. Apenas por fora, claro. Mas continuando a nossa história: Lúcia ouvia o que Maria falava. Porque Maria falava bem.
Mas Lúcia estava já farta. Farta de tanta hipocrisia da sua parte, farta de tanta mudança por parte de Maria.
Oh Maria! Onde andas tu, hoje?
Maria era a rocha, Maria era a Vida, Maria era simplesmente Maria. Mas Maria hoje já não era mais Maria. Desde aquele dia.
Lúcia cresceu tanto nesse dia.
Tanto que explodiu: "Maria, já não aguento! Quando quiseres voltar ao que eras, eu vou estar aqui. Mesmo que já ninguém esteja, eu espero por ti. Até lá, não me faças cúmplice disso. Até lá, Maria."
E Maria só respondeu, friamente: "Tenho muita pena que penses assim."
Lúcia saiu, vagueou dois anos pela rua, cresceu, desescondeu-se das saias de Maria. Para ela, Maria morrera.
Bela morte a de Maria!
Lúcia chorou-a. Lúcia fez os quarenta dias de luto negro. Depois fez-se à Vida.
Mas ontem Maria voltou. Maria voltou àquele mesmo lugar onde juntas tinham chorado e rido tantas vezes. Onde Maria ensinara a Lúcia tudo o que sabia e onde Lúcia absorvera toda a informação e carinho como se de um sacramento se tratasse. Como uma benção dum céu nunca idolatrado.
Maria voltou.
Mas Maria não foi ter com Lúcia, como lhe havia prometido. Maria cumprimentou Lúcia, como simples conhecidas e Maria seguiu em frente.
Maria riu.
Lúcia chorou.
Chorou de saudade.
Chorou do síndrome da abstinência que tinha feito de Maria durante dois anos.
Chorou porque queria Maria de volta.
Chorou porque Maria não queria voltar.
Fibonacci

4 comentários:

Inês Almeida disse...

Escrevo este texto pela extrema sensação de urgência que me assombra.
É impressionante a facilidade com que vos fecham os olhos perante o que é visível aos olhos de qualquer um. É impressionante a maneira com que vos manipulam sem vocês se aperceberem. É impressionante como podem igualar pessoas desiguais. É impressionante como mudam a vossa atitude e alteram a vossa personalidade. É impressionante a leviandade com que ouvem a canção do bandido. É ainda mais impressionante a forma como acreditam nela... É frustrante ver-vos assim e não poder fazer nada. É frustrante não reconhecer as pessoas a quem chamo amigas. É frustrante perceber que vêem apenas numa direcção. É ainda mais frustrante a forma como acham que tudo corre bem… É triste presenciar isto. É ainda mais triste assumir a minha incapacidade para o mudar… É bom pensar que tudo se pode alterar. É muito bom continuar a sonhar…

Amo-vos…e não vos quero perder..a vocês..aquelas pessoas extraordinárias que eu conheci…



Inês Almeida
17 de Março de 2005


> Foi este o texto de que te falei. A Lúcia e a Maria identificam-se um pouco com ele. Espero que gostes.. :)*

artur disse...

Talvez Maria volte um dia. talvez esteja apenas cegamente obestinda com outros.
ou talvez não.
talvez lúcia possa ser feliz sem ela.
ou talvez não.
simples cojecturas q só o fado saberá. Mas garanto-te que vou ter com a Lúcia para a fazer sorrir e esquecer e limparas lágrimas e avançar. E Amar.

Anónimo disse...

O que Lúcia tem de perceber é que nem toda a gente é como Maria! Há pessoas iguais a ela, sim, mas há outras que nunca vão deixar Lúcia (aconteça o que acontecer)!

-Corrija quem acha que eu estou errada!

Anónimo disse...

Gosto da Lúcia e não gosto da Maria.