A noite era uma das noites mais abafadas do ano. Era um bafo impossível e impossível. Um quente sem temperatura, só densidade. O quarto era uma estufa, como a praia era a lua. Os corpos mal aguentavam o lençol e repeliam-no a jorros de suor que deixava um rasto viscoso do mel nos braços, nas pernas e nos cabelos. E, apesar de tudo, aqueles corpos dormiam, semi-adormecidos, semi-enfeitiçados.
Aquela hora foi a hora mais quente e mais bafienta dessa noite. O meu braço não aguentava a pressão do ar que o rodeava e foi em vão que o tentei segurar quando cambou para baixo. Acordei-te a ti e eu acordei por aí. Os teus olhos brilhavam num brilho lustroso e meloso pelo quente, só densidade, do ar da noite. Os meus não sei. De momento, eram só os teus.
E, por instantes brevíssimos, uma brisa gelada arrepiou-me e demorei um tempo a descobrir que era a tua mão. A tua e a minha não se repeliam, como o corpo ao lençol, mas pareciam agarrar-se fortemente e contra o nosso espanto e vontade.
E a partir desse momento, todos os corpos do quarto dormiram. Até eu e até tu. Semi-adormecidos, semi-enfeitiçados. Não deves ter reparado, mas adormecemos imediatamente, finalmente seguros um pelo outro de que o ar não nos abafaria, de que a lua não encheria toda a praia e de que a manhã voltaria e, com ela, a Vida do vento norte.
1 comentário:
Palavras para que? :)
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