Quando Lúcia entrou na sala eram sete horas da tarde. Tirou o casaco, pendurou-o no bengaleiro, cumprimentou a dona da casa e preparou uma bebida para si. Eram 19h17 no relógio da sala.
Lúcia conhecia as pessoas a seu lado e falava; a sala foi enchendo e Lúcia atropelava-se e ria-se com espasmos, soltando o corpo num contagiante grito controlado. Saltava de voz para voz, de pessoa para pessoa, e com isto o sol pôs-se, a lua cheia brilhou mais, e o relógio deu as nove, as dez, as onze horas.
Num não-sei-como despropositado, Lúcia contou-as a todas. E falava, ria e atropelava-se feliz.
(...)
Quando sentiu uma outra mão na sua, o mundo não se desfez. Lúcia sorriu - se para si ou para fora já não saberia dizer, mas Lúcia conhecia aquela mão estranha. E o mundo não se desfez, nem Lúcia deixou de ver o barulho à sua volta. Apenas desapareceram as horas e a lua. Quando sentiu uma outra mão na sua, o mundo coube todo lá dentro. E vendo tudo, só aquele calor existia, e aquele travo já conhecido da perfeição alastrou-se pelos dedos.
(...)
Lúcia despediu-se da dona da casa eram 4h13 da madrugada. A sua mão esquerda ainda levava marcada a impressão de outra pessoa. E Lúcia não percebia como mas a Lua continuava lá. Imóvel. Como se nada se tivesse passado. E só a ausência do seu usual olhar sarcástico lembrou a Lúcia que, de facto, nada aconteceu. Fibonacci
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