Durante muito tempo não me apercebi o que me afastava daqui. Já não era a minha casa. Já não era livre de ser quem queria. E eu nem sabia quem me mandava. Era uma dor maior que já não podia aguentar.
Mas fugir não é solução. Nem soluçar ou manter a raiva bem como primeira opção. Vou mudar, relaxar, esquecer-me de tudo até poder voltar à casa que eu conheci.
Dantes, ninguém me visitava, ninguém batia à porta. E eu lamentava-o sem saber que amava essa vida só minha e só ali. Devagarinho, vou voltar a estar à vontade. Devagarinho, as pessoas vão embora. E a casa, toda suja da festa, vai ser só minha outra vez. E vou poder voltar a cantar bem alto, que ninguém ouve. E vou poder voltar a escrever disparates, que ninguém vai ler. Sou só eu e eu outra vez.
Gostava de saber ver a arte. Mas não. Enquanto não tiver a maturidade para a deixar voar, nunca a poderei ver a sair de mim, das minhas mãos, a uma velocidade superior aos meus próprios pensamentos.
Sei que tudo o que é criado deixa de pertencer ao criador. Mas sou uma mãe demasiado protectora, e abafo. Porque sufoco quando alguém vê segundos significados no que não podia ser mais simples, mais puro, mais despropositado. E porque incho de orgulho vão quando alguém vê algo maior do que o real no que escrevo, quando alguém gosta tanto como eu. E não posso sufocar, percebi agora. Mas muito menos posso inchar. Se eu fosse mesmo artista, deixava ir o que criava, deixava que cada pessoa gostasse ou odiasse, interpretasse e se deliciasse à sua maneira. Que seria, com certeza, tão oposta à minha... Mas não sou.
Mas não sei. E enquanto não souber, resta-me ser feliz com o que tenho.
E tenho um desejo maior que eu - que deliciosamente não passa disso mesmo: um desejo enorme de ser maior.
Fibonacci
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