sábado, setembro 29, 2007

Pôr-do-sol

Fiz o teu luto.

Mostraste-me como podia ser sozinho
E sem ninguém não podia ser melhor.
Mandava nas minhas mãos, nos meus olhos,
Media minha avidez desmedida
Ou o simples teor
Do açúcar metabolizado nas minhas lágrimas.

Tão puramente como naquele início.

O ser sem ninguém.
O ser para alguém que não nos ouve.
O ser para mim, até ao fim,
E só a ao futuro jurar lealdade e eterna dependência.

E depois uma cara, um calor,
uma morte que me deste desta minha ignorância.
Que quando falamos de Amor, quem espera sempre alcança.
Fibonacci

sexta-feira, setembro 28, 2007

Say love

À frente, a estrada; atrás, a saudade. E quando paramos no agora, já nos esquecemos que é passado. E que nunca chegou a ser futuro.
O tempo é tão relativo.
Não o medimos aos anos. Não o medimos aos meses. Não o medimos às luas.
Medimos o céu.
Medimos o calor do sol. Medimos as nossas ideias. Medimos os nossos sonhos. Medimos os nossos amores.
Porque o Amor é a menina dos olhos da Morte ou da Fortuna (ou mesmo do que nos leva a levantar os olhos ao céu). E quer nos apercebamos ou não, é a nossa única bússola, tão intemportal de biológica que é.
Fibonacci

quarta-feira, setembro 26, 2007

Agora precisava de ver o teu nome. Para saber que não estou sozinha.

Já sei acreditar no incrível

Sei que não posso ser de grande ajuda. Sei que não posso fazer, saber ou dizer nada que ajude. Ainda sei melhor que última coisa que precisas agora é de ajuda. Mas sei rir. E se ainda o sei fazer é a ti que o devo. E posso não saber ou conhecer nada. Mas ti, a ti sei-te e conheço-te mais do que queria ou imaginava.
Tu és como eu, somos iguais nós. E ninguém diria. Porque as coisas importantes vêm-se mal. Tu querias um grande amor. Eu também. Ainda acreditamos nisso. Não há muito quem o faça. Agora não estás segura. E eu também não. As nossas histórias são demasiado diferentes para serem parecidas. Mas mesmo isso não sei. Eu arrisquei e perdi. Tu perdeste e arriscaste. Ganhaste. Agora queres mais. E, sabes? tens todo o direito a mais. Já eu, tenho tanto medo de querer mais que fujo do que podia ser tudo. Mas tu não. Nunca fugiste.
Divaguei como sempre.
A única coisa que sei és tu. E tu, tu não desistes. Tu lutas pelo teu final feliz. E és diferente dos outros porque lutas contente, não lutas a saudade. És diferente, e és melhor. E se eu vejo isso, toda a gente vê.
Acima de tudo, tu és melhor. Acima de tudo, tu não tens medo. Mas acima de tudo, tudo o que tu queres é mais. Não tenhas medo disso. Eu acredito que tudo pode acontecer. Acredito que se estás feliz, não podes deixar que o medo da tristeza te apague o brilho dos olhos. Vive. Vive só. Tu és maior e melhor que a tua própria luta. E se agora és feliz - acredita em mim - vais ser para sempre.
Fibonacci

terça-feira, setembro 25, 2007

1ª inversão do arpejo de mi menor

Então porque não? É raiva correctamente direccionada e soprada que me deixa assim.
O Amor pode ser não seja agora. E isso nem me desilude. As minhas perspectivas pós-românticas e realistas líricas podem inverter-se por um pouco. Deixar de lado a vaidade. Chamar a mim todo o meu ego, exacerbado em ti. Deixar que a chuva caia e não fugir. Aceitar que há coisas sem remédio. E não te deixar à espera, nem mais um segundo.
Fibonacci

segunda-feira, setembro 24, 2007

Baile de máscaras

Quando Lúcia entrou na sala eram sete horas da tarde. Tirou o casaco, pendurou-o no bengaleiro, cumprimentou a dona da casa e preparou uma bebida para si. Eram 19h17 no relógio da sala.
Lúcia conhecia as pessoas a seu lado e falava; a sala foi enchendo e Lúcia atropelava-se e ria-se com espasmos, soltando o corpo num contagiante grito controlado. Saltava de voz para voz, de pessoa para pessoa, e com isto o sol pôs-se, a lua cheia brilhou mais, e o relógio deu as nove, as dez, as onze horas.
Num não-sei-como despropositado, Lúcia contou-as a todas. E falava, ria e atropelava-se feliz.
(...)
Quando sentiu uma outra mão na sua, o mundo não se desfez. Lúcia sorriu - se para si ou para fora já não saberia dizer, mas Lúcia conhecia aquela mão estranha. E o mundo não se desfez, nem Lúcia deixou de ver o barulho à sua volta. Apenas desapareceram as horas e a lua. Quando sentiu uma outra mão na sua, o mundo coube todo lá dentro. E vendo tudo, só aquele calor existia, e aquele travo já conhecido da perfeição alastrou-se pelos dedos.
(...)
Lúcia despediu-se da dona da casa eram 4h13 da madrugada. A sua mão esquerda ainda levava marcada a impressão de outra pessoa. E Lúcia não percebia como mas a Lua continuava lá. Imóvel. Como se nada se tivesse passado. E só a ausência do seu usual olhar sarcástico lembrou a Lúcia que, de facto, nada aconteceu.
Fibonacci

quarta-feira, setembro 19, 2007

Take it easy

Durante muito tempo não me apercebi o que me afastava daqui. Já não era a minha casa. Já não era livre de ser quem queria. E eu nem sabia quem me mandava. Era uma dor maior que já não podia aguentar.
Mas fugir não é solução. Nem soluçar ou manter a raiva bem como primeira opção. Vou mudar, relaxar, esquecer-me de tudo até poder voltar à casa que eu conheci.
Dantes, ninguém me visitava, ninguém batia à porta. E eu lamentava-o sem saber que amava essa vida só minha e só ali. Devagarinho, vou voltar a estar à vontade. Devagarinho, as pessoas vão embora. E a casa, toda suja da festa, vai ser só minha outra vez. E vou poder voltar a cantar bem alto, que ninguém ouve. E vou poder voltar a escrever disparates, que ninguém vai ler. Sou só eu e eu outra vez.
Gostava de saber ver a arte. Mas não. Enquanto não tiver a maturidade para a deixar voar, nunca a poderei ver a sair de mim, das minhas mãos, a uma velocidade superior aos meus próprios pensamentos.
Sei que tudo o que é criado deixa de pertencer ao criador. Mas sou uma mãe demasiado protectora, e abafo. Porque sufoco quando alguém vê segundos significados no que não podia ser mais simples, mais puro, mais despropositado. E porque incho de orgulho vão quando alguém vê algo maior do que o real no que escrevo, quando alguém gosta tanto como eu. E não posso sufocar, percebi agora. Mas muito menos posso inchar. Se eu fosse mesmo artista, deixava ir o que criava, deixava que cada pessoa gostasse ou odiasse, interpretasse e se deliciasse à sua maneira. Que seria, com certeza, tão oposta à minha...
Mas não sou.
Mas não sei.
E enquanto não souber, resta-me ser feliz com o que tenho.
E tenho um desejo maior que eu - que deliciosamente não passa disso mesmo: um desejo enorme de ser maior.
Fibonacci