terça-feira, abril 29, 2008

Talvez uma vez mais

Tinha jurado que nunca mais diria uma palavra. De nada me servia. Dizia para ninguém ouvir e o meu ego inchado de toda a medicação que lhe dão não podia aceitar tal coisa. E agora nem pouco, nem nada. Nem eu.
Em tantos meses não voltei a abrir a capa. Coisa horrível, amadora e desproporcionada para tudo o que queria fazer. Mas hoje a tentação foi mais forte. Hoje vi que tenho aqui tudo de mim. Não podia continuar assim. Não resisti. Não dava.
Parei porque pensei que não interessava a ninguém.
Pensei mal.
Interessa-me a mim.
Tinha jurado que nunca mais diria uma palavra. E como todas as minhas promessas que começam por "nunca mais", acabei de a quebrar.
E não podia saber melhor.
Fibonacci

quinta-feira, janeiro 10, 2008

P(n) verdadeiro

Sozinha sou completa. Sou e estou bem, quase que sou eu inteira. Mas não me deixes aqui, toda por minha única conta. Senão eu vou contar-me. Eu em factorial, eu exponencial e quase que eu logarítmica.
E o resultado não vai dar certo. Não me demonstro, fico-me (como tudo na minha vida) pela hipótese. E a tese morreu antes da proclamação.
Se eu induzo alguma coisa só pelo que não dizes, imagina o que posso fazer com o teu silêncio bruto. Quando falas tanto que te calas, e tanto ris que quase choras. Quando insistes em correr para não ficar atrás. E fico eu.

Não venhas se não queres ficar.

Fibonacci

segunda-feira, janeiro 07, 2008

Vou começar a mentir-te agora.
Vou dizer que te adoro
Que me vicias
Que me delicia saber que és a minha
Realidade que não houve.
Vou mentir-te, tu vais gostar.
Vou seguir-te, tu vais andar
Tanto às voltas
Que até voltas para mim.
Vou mentir-te, sim.
A verdade é eco do que soou
E corre bem mais quando minto.
Acredita quando não falo,
E isso é tudo o que sinto.
Fibonacci

sexta-feira, dezembro 21, 2007

Baionne

Um, dois, três, quatro, cinco, seis, zumba, oito, nove, dez, zumba, doze, treze, zumba, quinze, dezasseis, zumba, dezoito, dezanove, vinte, zumba, zumba, vinte e três, vinte e quatro, vinte e cinco, vinte e seis, zumba, zumba, ...

Páro no vinte e oito em honra à Mafalda.


Quero voltar.
Aqui há muitas horas de sol por dia e o dia começa muito cedo.
Quero tanto voltar e ainda quase não saí.
Quero voltar ao frio que já nem é frio quando é gelo, e quase nevou, quase.
Aqui, quando é noite, continua a haver luz. Quero voltar ao escuro da salamandra acesa.
Quero mesmo voltar.
Aqui há muito para fazer mas os dias passam devagar. Lá não havia relógios e o tempo perdia-se no caminho. E cartas, e jogos, e nada, tanto nada, que se fazia quando me lembrava das horas.
Aqui há muita comida, mas era lá que as refeições se misturavam até se tornarem numa única, comprida, ao longo de todo o dia (se é que dia lhe podemos chamar), comprida e deliciosa, que ora se esticava, e era uma linha ténue, fina e leve como uma bolacha, ora engordava e saltava voluptuosa como as massas a dançar na água a ferver.
Quero cada vez mais voltar.
Aqui tenho tudo. Mas ter só o essencial fez-me tão mais feliz.
Obrigada pelos músculos doridos da barriga de tanto rir. Obrigada pelas lágrimas dos filmes mais emocionantes (e pelas piadas relacionadas com portas, que não nos esqueçamos que são nove). Obrigada pela companhia do pijama. Obrigada pela música (e pela dança, também, muito obrigada). Obrigada pelo cobertor eléctrico. Obrigada pelos percevejos do memorial e por aturarem os guinchos das seis menos um quarto da tarde. Obrigada pelas manilhas azuis do Uno. Obrigada pelas obras de carpintaria. Obrigada pelo cabron. Obrigada, obrigada, obrigada.
Quero voltar.
Porque lá adorei clichés.
Fibonacci

sábado, dezembro 15, 2007

Nevoeiro

Nevoeiro é quando o mar se levanta e voa à terra. O nevoeiro esconde mas profetiza. E se, à noite, algo insiste em brilhar forçado, é chuva miúda que cai mas não molha. E aí sentimo-nos intocáveis, imortais, um pedaço dos deuses feito sinal.
Não há unidade possível, nunca houve, nem no início. Por isso a procuramos, por isso corremos. Por isso olhamos para todo o lado e a inventamos com todas as nossas forças. Mas não há. É como correr atrás da sombra. Mas parar, parar é morrer.
No nevoeiro, somos uma partícula de toda aquela água disfuncional. Não somos um. Somos uma parte. Mas essa parte chega. E bem que quase que queremos ser dois.
Hoje, hoje não sou eu, nem sou Ricardo Reis, nem finjo ler o que me descontrói. Hoje sou parte do nevoeiro.
Não falo, não vejo, não ouço.
Chovo, mas não molho.
E sentir, só sinto mesmo o meu estômago.
Um pouco mais acima e era o coração.
Fibonacci

quarta-feira, novembro 28, 2007

Falta-me tudo e do resto tenho a mais. Queria um sentido porque me sobram os significados. Queria algo maior porque tudo é já tão grande. Falto eu ser quem devia. Faltas tu mostrares quem não és. Quero uma perspectiva porque três dimensões é demasiado para mim.

terça-feira, novembro 13, 2007

Pessoa

Contigo aprendi que cada palavra tem mais que o seu justo peso, tem milhões de justos pesos e justas medidas. Aprendi que consegues levar-me onde quiseres, por muito que eu não queira ler assim. Aprendi que que uma letra é o mesmo que um número, e uma alma, um destino. Tu morreste criança. E por isso aprendi que nunca chegamos lá. Aprendi que o que importa não é passar, é ser a ponte. Aprendi que o tédio é pó, e nós somos pilares dessa toda apatia. Não me ensinaste que há coisas maiores. Mas contigo aprendi que essas coisas maiores estão aqui tão perto que por vezes nos confundimos com elas. Aprendi que não vale a pena a vontade. Porque a Força é maior. Aprendi que mesmo assim somos quem queremos, e temos todo o dever de ser. Aprendi que não sou nada. Mas aprendi que posso ser futuro. Não sei o que viste, não sei quem te mostrou o que é Longe e já não nos pertence. Mas tu sabes. Apesar de nunca teres chegado lá. Morreste criança, para me ensinar isso. Num mesmo sopro, um mesmo fado. Num mesmo futuro, um mesmo passado.
Fibonacci