quarta-feira, abril 04, 2007

Respiração

«Respiro o teu corpo:
sabe a lua-de-água
ao amanhecer,
sabe a cal molhada,
sabe a luz mordida,
sabe a brisa nua,
ao sangue dos rios,
sabe a rosa louca,
ao cair da noite
sabe a pedra amarga,
sabe à minha boca.»
Eugénio de Andrade
De repente, respiro, sim, respiro o grito que nunca me atrevi a saborear. Respiro a alvorada da liberdade. Respiro e choro e grito, como um bebé chora e grita para respirar. Esperneio e grito. E berro tanto que já nem choro. Vou beber veneno. De tanto berrar, vou morrer a rir.
Quero mais-que-profundamente a felicidade. Quero lutar por ela. Mas lutar a sério, no verdadeiro campo de batalha, com sangue, suor e lágrimas. Quero correr atrás dela no meu máximo de velocidade, como gosto de correr atrás da minha sombra só porque sei que um dia a vou conseguir agarrar. Quero esperar pela felicidade. Mas esperar feita espia. Esperar camuflada, como espero o meio-dia para ver o calor do milagre do eclipse da sombra e como espero as sete horas da tarde como a hora perfeita da união da areia e do mar. Quero conseguir a felicidade como gosto de conseguir as coisas mais difíceis. Quero gritar que a consegui quase tanto como grito que a quero conseguir.
Quero mesmo ser feliz. E quero que seja difícil. Quero consegui-lo só por mim, mas nunca há-de ser por mim só.
O determinante possessivo dessa palavra é invariável, infatível e cruelmente plural.
Sempre foi.
E sempre há-de ser.
Fibonacci

1 comentário:

Inês Almeida disse...

Eu também quero. Quero com todas as minhas forças.

Só falta por-nos a caminho! *