sábado, dezembro 15, 2007

Nevoeiro

Nevoeiro é quando o mar se levanta e voa à terra. O nevoeiro esconde mas profetiza. E se, à noite, algo insiste em brilhar forçado, é chuva miúda que cai mas não molha. E aí sentimo-nos intocáveis, imortais, um pedaço dos deuses feito sinal.
Não há unidade possível, nunca houve, nem no início. Por isso a procuramos, por isso corremos. Por isso olhamos para todo o lado e a inventamos com todas as nossas forças. Mas não há. É como correr atrás da sombra. Mas parar, parar é morrer.
No nevoeiro, somos uma partícula de toda aquela água disfuncional. Não somos um. Somos uma parte. Mas essa parte chega. E bem que quase que queremos ser dois.
Hoje, hoje não sou eu, nem sou Ricardo Reis, nem finjo ler o que me descontrói. Hoje sou parte do nevoeiro.
Não falo, não vejo, não ouço.
Chovo, mas não molho.
E sentir, só sinto mesmo o meu estômago.
Um pouco mais acima e era o coração.
Fibonacci

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