domingo, setembro 17, 2006

Isto é só um copo

Finalmente. Música para ouvir de olhos fechados e sentir de mãos abertas. Finalmente. Música.
Música que antes de ser música era poesia. Poesia que antes de ser poema era sentimento.
Ouviu-a em apenas duas respirações, aspirou-a num só fôlego e deixou-se cair, cansada e espantada depois. Sim, finalmente música. E parecia que a banda sonora não acabava ali. De repente, sentiu como um salto na vida. Uma independência. Uma vontade de mudar o visual como nunca tinha feito. Um novo look. Não. Uma nova atitude. Apenas uma vontade de nunca mais andar com as costas curvadas. Ser como era e tinha muito orgulho em ser.
E em toda a esfera, a vida parecia-se cada vez mais com aquela música. Chorava as canções que cantou para si mas apenas queria abraçar a lua aquela noite. E nunca mais pensar só em si para estar sóbrio.
As coisas não tinham o mesmo significado. Em nada. Não, não ia seguir um curso normal, cheio de educação e boa vontade. Não, iria para as terras mais longíquas estudar o que sempre tinha sentido como a sua verdadeira vocação. Vocação, não, paixão. Devoção. Criptografia. Uau. Que nome pomposo. Nome perfeito para esta nova fase.
Os últimos acordes marcaram o fim daquela música. Fase. Hmm... Nunca tinha gostado daquela palavra. Fase. Passageira. Efémera. Maligna. Mas também o contrário a assustava. E, se a arte é tão efémera assim, porque não o pode ser a própria atitude? Talvez daqui a um ano descobrisse que tudo não passava de mais uma fantasia e voltasse para a sua licenciatura bem portuguesa e estável. Mas agora, agora não.

Replay.
Do início o som, segundo zero.

Afinal, que mais é ter dezasseis anos?
Fibonacci
Isto é só um copo
Eu não bebi de mais
Achei que era diferente
E são todas iguais.
Escrevi canções sobre ela
Mil noites sem fim
Deixou-me neste bar
A cantá-las pra mim

Eu bebo da garrafa
Tomo um gin de manhã
Se oprincipe era o sapo
Ela devia ser rã.
Eu amo quem eu sei
Que não me vai amar
Mas só assim me dá
Vontade de cantar

Mas a dor insiste
Não dá pra esquecer
Mas o peito insiste
E não a deixa morrer

E eu não vou deixar de beber
Como gin
E para estar sóbrio não basta
Só pensar em mim

Nao era isto qu’eu queria ser
E o que me deixa mal é o que me faz viver
Sinto a roupa fria e o corpo dorido
Sinto o cheiro a vinho mesmo sem ter bebido nada

Isto é só um copo
A boca já me arde
O homem varre o chão
E diz que já é tarde
“Senhor só (bon voyage) é hora de fechar”
A lua é a mulher
Que hoje vou abraçar.
Ornatos Violeta - Dez Lamúrias por Gole

2 comentários:

João Ribeiro disse...

Doce uuuhhhh.. Essa música. E este blog.. O Sr. Fibonacci acertou em cheio no intermediário. Já não o visitava desde o primeiro post e agora,bem, agora fico-me só por este último. Amanhã é dia de aulas e apesar de querer a garrafa, este copo satisfaz-me por hoje. E eu adoro gin. Amanhã bebo mais um copo para ir com a voz quentinha para o ensaio.

"o joão" soa melhor?
ah, podes sim

artur disse...

'tantos', quanto escreve tu?
limito-me a lisonjear e admirar esta tua queda literária que me atrai docemente... pois faz-me sentir,(porque relembrar é viver, viver é sentir, logo relembrar é sentir) a paralisia momentanea com q m deixast qando m deste a conhecr esta bela paródia.