domingo, setembro 03, 2006

Roda Viva

Ela nunca pensou que isso pudesse mesmo existir. Uma terceira dimensão. Sempre tinha tido as suas coordenadas fixas: tempo e espaço. As palavras mais confusas, as declarações mais apaixonadas e os discursos mais preserverantes. Tudo o que dizia, respirava, escrevia e o que, no fundo, a guiava eram sempre precedidos do tempo e encontravam-se no espaço.
(Hoje, (...) Sim, hoje! Percebeste bem? (...) Não, isso só posso entregar amanhã. (...) Onde? Claro que estará lá!)
Mas o tempo passou.
E agora o tempo só é preciso para dizer «Agora já não há tempo».
E não sinto o tempo, nem a distância. Só o mar.
E, sim, estou com os sintomas da saudade.

Por Chico Buarque e Fernanda Porto,
Tem dias que a gente se sente
Como quem partiu ou morreu
A gente estancou de repente
Ou foi o mundo então que cresceu
A gente quer ter voz ativa
No nosso destino mandar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega o destino pra lá
Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda peão
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração
A gente vai contra a corrente
Até não poder resistir
Na volta do barco é que sente
O quanto deixou de cumprir
Faz tempo que a gente cultiva
A mais linda roseira que há
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a roseira pra lá
A roda da saia, a mulata
Não quer mais rodar, não senhor
Não posso fazer serenata
A roda de samba acabou
A gente toma a iniciativa
Viola na rua a cantar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a viola pra lá
O samba, a viola, a roseira
Um dia a fogueira queimou
Foi tudo ilusão passageira
Que a brisa primeira levou
No peito a saudade cativa
Faz força pro tempo parar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a saudade pra lá
Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda peão
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração
Chico Buarque
Fibonacci

Sem comentários: