terça-feira, dezembro 05, 2006

In a manner of speaking

Numa maneira de me expressar, tão comum de tão rara que é, silencio-me num sorriso mudo. Corro o cabelo do papel e a caneta cansada da semântica que me confunde e se ri de mim. Imploro-te de lábios selados por um grito infindo, uma palavra calada, morta e ofegante no chão. Uma palavra em que tu pegues devagar, um passarinho caído que voltas a sossegar no ninho, numa manhã opaca e branca de Inverno.
Sem dizeres nada, eu percebo-te. Gostava de aprender a voar como tu, nas bancas rasgadas das ruas do Outono e das castanhas; voar como uma castanha.
Naquela certa maneira, eu gostava de ser como tu e calar-me como um livro. De uma certa forma, gostava que percebesses calado que o meu grito não é assim tão fútil e o meu silêncio é a paz do guerreiro que cai do cavalo. Gostava que percebesses que as minhas palavras são tuas, são teu reino, mandas nelas. Gostava que baixasses sempre o polegar, pois, com a outra mão, tu ias levantar a minha face cansada e o meu queixo senil. A tua sentença de morte é a menina dos teus olhos e o remate à minha esperança. A esperança de veres as palavras que calas nas minhas que grito.
O mundo idolatra-te, orador, porque não dizes uma única palavra.
E porque, quando dizes, elas nada significam para eles.
Só para mim.
Tanto para mim que grito.
Fibonacci

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