sábado, outubro 06, 2007

Lógica

Ainda há muito que quero ver. Ainda há muito que não vi, não vivi e, mais que isso, ainda há muito que não vou poder recordar.
Ainda não vi o que é a alma, e onde fica a saudade afinal. Ainda não vi o que é ser maior e sentir o espinho espetado no braço. Ainda não vi a meta, e pensando bem, ainda nem vislumbrei o que está para lá da primeira curva.
Há tanto que me falta. Falta em mim, não de mim. E apanho-me a pensar no que nos define, na nossa expressão designatória, no nosso domínio. Se é o que fizemos, vimos ou pensamos, ou se é aquilo que acima de tudo desejamos e nunca pudemos viver.
Falta-me, a mim, um ou dois mundos inteiros, e mais umas quantas estrelas.
É difícil conceber que já tenha vivido, porque cada segundo sou outra pessoa. E sinto-me outra pessoa, a cada pessoa que passa na minha vida. E vivo outra vida, cada vez que a minha de repente acaba e renasce das cinzas. E nasço. Nasço a cada inspiração, e a cada expiração olho o mundo como se fosse a primeira vez. E como cada primeira vez, não sei se é o medo se é o deslumbramento que me cala.
E é este constante renovar que, ora soprando, ora deixando de soprar, me arranca do que é lógico e me faz acreditar que não há, verdadeiramente, um fim.
As imagens confundem-se demasiado na minha cabeça. É escusado dizer que sei que há outra lógica, dado que o que há de facto é um magnetismo natural para o que é ilógico. Mas há. Há, pelo menos, algo para o qual me viro constantemente. O meu único refúgio quando penso demais, calculo de mais, raciocino demais e vivo de menos.

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