sábado, janeiro 06, 2007

De lareira acesa

A neve cai lá fora como batalhões, como patorras de elefantes, muito pouco poética, essa neve.
Um simples raciocínio faz-me dar graças pela monotonia sedenta do vazio na qual a minha vida se tornou. Assim penso e só assim escrevo, traço notável do carácter amador sem experiência ou sem qualquer valor da minha suposta arte.
Se tudo fosse neve e se a neve fosse água, se o condicional se ultrapassasse e o futuro corresse ao passado, as minhas mãos iam-se cansar.
Ou talvez não. Talvez explodissem para algo muito melhor. Algo que eu não conheço, que é tão maior. E eu ia crescer e deixar de escrever estas coisas ridículas que só teriam valor se fossem cartas de amor, que são ridículas. Sendo como são, ar puro já demasiado quente, não mereciam existir nem na minha cabeça. Só na tua.

E foi assim que surgiu a ideia de matar o meu diário e começar a escrever para ti. Para ti que nem sei quem és mas sei que amo. Todas as cartas de amor são ridículas. Assim não preciso de ter vergonha da necessidade de matar a abstinência do papel e da caneta sem qualquer inspiração.

A cabana está fria, o livro pouco avança e as ideias vão escasseando. As personagens aborrecem-se no papel e a lareira quase que adormece a meio das suas funções. A noite que avança deveria ser meu suporte, mas continuo aqui, sozinha, neste descampado serrano invernoso, sem conseguir o que quero dela: inspiração. As estrelas brilham mas não é para mim. Talvez não devesse ter vindo para aqui a correr atrás do sonho. É melhor fechar tudo e esperar que esse único momento real do meu dia-a-dia, o sono, me revele mais do que eu quero saber.

Só isso é tão bom.

Fibonacci

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