sexta-feira, janeiro 12, 2007

Oráculo de Delfos

Demoras inexplicáveis e balbúcios como desculpas. Obrigatórias por natureza, indesculpáveis por educação.
Ruído da porta a vociferar e um pé a bater.
«Uma dor intensa apropria-se do apêndice da Personagem nº1 (que ainda não tem nome, pois é demasiado importante para ter já um nome). Não, nº1 já não tem apêndice, já estragou a outra peça, afinal foi à Ana, originalmente nº16, que já tem nome porque, claro, é a nº 16 e não precisa de um nome demorado como Coríntia.
Coríntia!
Personagem nº1: Coríntia sem apêndice.
A porta bate outra vez. Alguém saiu a chamar alguém que nunca vai chegar a entrar. Nº 1, perdão, Coríntia de pé.
Corinto de novo.
Labda dará à luz a pedra que derrubará os que governam e endireitará Corinto.
Não foi pedra, foi Pedro.
Mas Coríntia está de pé.
Quem caiu, afinal?
Aquele que foi chamado e nunca devia ter entrado, entrou. Personagem nº 17: Labda, a mãe e a arca desaparecida.
Tragédia.
Tragi-comédia.
Riso infernal.
O FIM.»

E aquelas palavras que me prometeste?
As outras duas que deixaste cair não contaram. (Anulavam-se uma à outra, o céu e o mundo.) Não sei que te atrasa. Afinal nenhum dos dois se apercebeu, nenhum viu nada. (O tanto sonhado passou despercebido, inebriado de fumos e calor). Desde já desculpa a interpretação exagerada de quem disseram que era cego. Daqueles cegos que vêem demais.
Cara a cara, muito literalmente, nariz a nariz, mãos e um olhar líquido. Como Coríntia. Despedida do que nunca assistiu por um puro arrependimento azedo. Beijo de Judas.
Ritmo de lábios selados.
A lacre.
Vermelho.
Tiraste de mim as palavras para reinventar a história desacreditada de quem acreditava em profecias que se cumpriam. Dos tempos imemoriais em que os nossos antepassados cumpriam o que desenhavam e falavam a cantar sobre homens maiores que os homens e mais fortes que os deuses.
A peça jaz inacabada e apenas uma pessoa chora, a personagem número 17.
Dá-me essas palavras, eu nem preciso delas. Deixa-me fazer nascer o inascível.
Fibonacci

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