sábado, março 17, 2007

Azul

O céu abriu-se ontem. Numa magnanimidade desmedida, o céu abriu as janelas de par a par e deixou entrar os raios azuis e novos do sol, como um grito desmesurado ao Tempo. Abriu-se de uma maneira que não enganou ninguém. Por pouco, lembrou-nos que há mais cores na paleta que não o cinzento. E que o Verão não é uma miragem. Pode exisitir mesmo.
À primeira impressão do calor natural em meses, à primeira visita do criador, ao seu primeiro abraço, estranhei a primeira promessa. Fugi e continuei a estranhar. Porque sempre desejei mas nunca acreditei que o Verão chegasse mesmo. Porque a maior parte das coisas que desejamos muito, não acreditamos que cheguem mesmo. E é isso que nos faz gostar tanto delas. O verdadeiro teste é tê-las na mão e aí ainda ter mais saudades delas do que quando não as temos em nós. O verdadeiro teste é ver o Verão chegar e correr mais para ele do que quando o esperámos no Inverno. E o verdadeiro resultado, o único, é que nos vamos aperceber que chegamos ao Verão e a cor que tanto ansiávamos, tapamo-la com os óculos escuros. E o calor que tanto quisemos, afugentamo-lo com as ventoinhas.
Mas este ano não. Os seus raios azuis e novos prometeram aquela primeira promessa e eu acredito.
Vou correr a sair de casa para morrer de calor.
Vou abrir os olhos para a cor mais escondida,
vou acordar as sestas mais pesadas,
vou adorar o mar gelado e o próprio gelo a derreter.
Vou deixar cair tudo o que em mim que é Inverno para que, mal chegue Agosto, deseje intensamente sentir de novo o calor pequenino das castanhas assadas e de novo ver as folhas a cair vermelhas.
Vermelhas e laranjas porque, apesar de tudo e apesar do Tempo, não vou nunca esquecer o cheiro do Verão.
Fibonacci

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