segunda-feira, julho 09, 2007

Diário de viagem

Libuse nunca chorou


Libuse nunca chorou. Nunca chorou de dor, amor ou angústia. Nem de saudade, Libuse nunca sentiu ninguém.
Libuse era amarga, semelhante às deusas em tudo. Nas tranças que não tinha, no olhar que não lançava, nas paixões que não vivia, mas recordava. Libuse queria ser sozinha. Libuse era princesa. E à noite, à revelia, sonhava ser rainha, ou pouco mais. Ou mais livre, ou menos presa.
Até então, Libuse nunca tinha amado. Fugia. Mas Libuse, plebeia, por dois segundos morou naquele lugar, nas brandas curvas sinuosas do rio, no fugaz dorso de baleias que nunca viu, mas imaginou. Naqueles dois segundos, Libuse construiu uma cidade só para si, que nunca mais foi sua.
Sua, foi naqueles dois segundos em que pestanejou docemente uma acre lágrima. Água.
Ninguém viu. Só as pedras mentirosas recalcadas o sabem. E nessas, ninguém acredita.
Assim, Libuse, mulher amarga em tudo igual das deusas, manteve para o sempre a sua posição etérea, imortal e terrível.
Libuse nunca chorou. Morreu.
Praga, 5 de Julho de 2007




That would be nice.

Se um dia encontrasse, íamos viver à luz das velas, dançar eternamente despegados um no outro, como nesta noite. (A cara a arder, um formigueiro estranhos nos dedos que não querem segurar a caneta na mão esquerda.) Íamos jantar para sempre a música e calarmo-nos no grito infundo que criámos.
Se um dia encontrasse o livro dourado. E o frio do vento gelado lá fora ia esquecer-nos de tudo o que já imaginámos. Bastava fugir. Bastava querer. Fechar os olhos, abandonados ao ritmo do violão, agarrados pelas mãos e pelos olhos.
Eternamente à espera.
Eternamente irreconciliáveis.
Praga, 7 de Julho de 2007



Fibonacci

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