segunda-feira, julho 02, 2007

Uma nota só

Eis aqui este sambinha
Feito numa nota só
Outras notas vão entrar
Mas a base é uma só
Esta outra é consequência
Do que acabo de dizer
Como eu sou a consequência
Inevitável de você
Quanta gente existe por aí
Que fala tanto e não diz nada
Ou quase nada
Já me utilizei de toda a escala
E no final não sobrou nada
Não deu em nada
E voltei prá minha nota
Como eu volto prá você
Vou cantar com a minha nota
Como eu gosto de você
E quem quer todas as notas
Ré, mi, fá, sol, lá, si, dó
Fica sempre sem nenhuma
Fique numa nota só.
Tom Jobim
Toda a gente sabe que o passado está à esquerda e o futuro à direita. Toda a gente sabe que não há circunferências perfeitas na Natureza. Nem triângulos. Nem nada mesmo que se assemelhe a tal. E toda a gente sabe que isto é contraditório. Toda a gente sabe que, se não há nada perfeito e à nossa escala, muito menos perfeito será o tempo. E muito menos o será assim, escalado e igualmente repartido por tudo e todos. E se o futuro de repente virasse à esquerda e nos aparecesse aí, íamos ter tanto medo como se víssemos um tronco de árvore como uma curva celeste e endiabrada perfeitamente delienada, com todos os pontos do seu limite equidistantes ao centro. Um centro perfeito e milimétrico.
Toda a gente tem noção que isto dos segundos, minutos e horas fomos nós que inventámos em cima do joelho. E que nunca um minuto irá ter sessenta segundos. E que nunca um dia teve vinte e quatro horas. Estes últimos tiveram, no mínimo, cinquenta e duas. Por isso não quero cair no erro de cair no tempo todo do mundo. Nem em todas as notas. Quero uma. Quero-a e quero agora. Quero o próprio agora. O presente que nem é passado nem futuro nem nunca vai ser nada disso porque simplesmente não está na natureza dele.
Fibonacci

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