sexta-feira, novembro 09, 2007

Proposta de tréguas

Ivanhoe foi diferente.

A Ivanhoe faltou-lhe uma capacidade fulcral, que era ler o futuro. Ele não lia, pensava que o fazia acontecer.
Ivanhoe nunca me inspirou, mas aquecia-me.
Ivanhoe nunca parou. Parar é para os fracos. Parar é para quem tem alguém que os espere, na inércia, na ausência de forças, na força maior que não existir.
E agora, não sei se por medo do escuro, se pela claridade exagerada do sol, corre, corre e fala muito alto, para nunca passar despercebido e para nunca deixar perceber o atropelo que é a sua imaginação.
Fala comigo.
Fala comigo, Ivanhoe. Falaste tão alto, no dia em que me disseste que eras diferente, que quase me convenceste.
Fala comigo como se não precisasses de mostrar nada que não és, como se nada do que não sentisses fosse importante.
Fala comigo como se eu fosse uma pedra, e não o prémio do último torneio.
Fala comigo como se eu estivesse longe e nunca chegasse.
Fala comigo como se eu fosse a sombra do teu corpo. (Fala comigo porque chega sempre o dia em que o sol obriga o corpo a desejar a sombra, tal como se fosse a primeira hora.)
E não fales de mim. Que de mim só a memória se esvai, como sangue. E hoje tudo se encontra onde devia. E não fales de ti. Tu nunca te importaste com isso.
Sê alto, Ivanhoe. Sê grande. Sê inteiro. Não aceites menos que isso.
E fala comigo.
Fala como se eu não te ouvisse. Porque não te ouço. Eu não passo daquela sombra que um dia te mostrou que, afinal, és igual aos outros.
Fibonacci

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