quarta-feira, junho 28, 2006

E agradeceu-o.

Com um sopro apagou a vela. Agora sim. Gostava do escuro e das formas contorcidas que a luz mal soldada da vela havia desenhado na sua parede. Olhou para o lado, ainda mal adormecida e, sem querer, sorriu. O Verão tinha coisas destas. Especialmente à noite. Deixava-a melancólica e sorridente, com saudades da lua e do seu reflexo na água. E isso fazia lembrar aquela noite...
O mar estava límpido e as estrelas indicavam-lhe o norte. Observava o seu reflexo na água, iluminada pelo luar mais bonito daquele ano. De repente, sentiu a sua mão no seu ombro. Ele nada disse. Ela olhou o seu reflexo e pensou que nada daquilo fazia sentido. Não podia ser ele a estar ali. Nem ela. Então, pela primeira vez, os seus olhares encontraram-se.
Eles já se conheciam, sim. Já muito tinham falado, rido e chorado. Mas os seus olhos nunca tinham mergulhado nos dele. Ele nunca tinha deixado. Agora, agora que o seu riso de criança já não impedia o seu olhar de sentir, agora ela podia ver.
Sim. Esperava aquilo. Aquele olhar. Finalmente um olhar de quem vê e compreende, não de quem foge do luar.
E, num movimento súbito, acompanhado pelo ruído de uma onda frágil que se esbatia nos seus pés nus, abraçaram-se. E elevaram-se a um estado no qual a matéria não mais se podia detriorar. Uma amizade. Selada naquele mar.
Agora, ali lembrada, pensou no beijo que tanto esperara mas que nunca havia chegado. E agradeceu a sua ausência. Agradeceu o abraço e a amizade. Agradeceu-o num sorriso dormido sem limites que apenas as gaivotas interromperam. E elas apenas anunciavam a madrugada.
Fibonacci

2 comentários:

Anónimo disse...

melhr texto sem duvida!principalmente pq eu devo ser das unicas pessoas a percebe-lo realmente. bem, n ha mais nd a dizer...somente q te adoro mána

artur disse...

inspirador sem dúvida. gostava d dizer q o percebo cmo a amiga aqui do lado mas nao. não importa . o que importa é que mo contas e que posso imaginá.lo. A tua veia narrativa elevou.se no seu estado mais puro. cmo os amores no mar. Continua. estava a gostar.##